domingo, 9 de janeiro de 2011

Pêssegos Com Açúcar

(...)
- E como é que se abre o coração? - perguntou ele.
- Isso, só tu é que podes descobrir. Tu é que tens a tua chave.
- E se tu tivesses a minha chave? - desafiou ele, olhando-a nos olhos, numa espécie de jogo, a ver quem é que aguenta mais.
Mais uma vez foi ela que aguentou o olhar e ele sentiu-se outra vez perdido.
- Eu só tenho a tua chave se tu quiseres muito - respondeu - E seu eu também quiser - rematou. - Além disso, ainda é muito cedo para falarmos disso, não achas?
Ela tinha razão, pensou o rapaz. A vida são dois dias muito compridos, há tempo para tudo. E ele sentia que ainda não ia a meio do primeiro.
Por cima da mesa, deu-lhe a mão e agarrou-a com muito cuidado.
- Vou abrir o meu coração - disse-lhe - e tu vais ver o meu coração por dentro. Se gostares, eu arranjo-te um lugar para lá morares. Pode ser assim ?
Ela respondeu com um aceno de cabeça. Cheirava a pêssegos com açúcar e ele sentiu-se de repente muito feliz. Tudo agora começava a fazer sentido. Um novo sentido feito de todos os sentidos. Pêssegos com açúcar, pensou, deve ser tão bom...

Margarida Rebelo Pinto, A Tua Casa É O Meu Coração

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